Começar a escrever o relato do
meu parto é difícil pra mim, é complicado escrever um relato de um sonho
realizado, da medo de misturar o que é realidade e o que é fantasia! Fantasia?
Sim... fantasia, passei semanas fantasiando como seria... espero ser o mais
realista possível! Outra coisa complicada é saber a partir de que data começar
a relatar... da decisão por um PD? Do dia que soube da existência das doulas?
Da primeira consulta com um GO humanizado? Dos pródromos?
Bom... vou para onde tudo começou,
vou partir do dia em que ouvi pela primeira vez a sugestão de um parto em casa!
Por volta dos 4 meses de
gestação, um amigo e vizinho nosso, o Rogério, pai do Francisco, que nasceu na
casa deles, nos olha e diz: “Porque vocês não fazem o parto em casa?!”
Pensei... ele é louco e com louco não se discute... respondi um “Vamos ver!” e
encerramos o assunto!
Com cerca de 28 semanas de
gestação, pesquisando coisas na internet, vi um vídeo que mudou minha vida e o
que eu pensava sobre partos... era um parto natural, em casa, em uma
banheira... lembro que na hora que o bebê nasceu eu caí em lágrimas em casa!
Mostrei ao Vagner, meu marido,
ele gostou também... aliás, ele sempre me apoiou em tudo, me incentivou muito!
Aí entrei na lista Parto Nosso e
fui “achada” por uma Doula... a Zezé... minha professora de Yoga, Doula, amiga
e co-responsável por tanta coisa boa que me aconteceu depois disso!
Daí até meu parto fui devorando
livros, relatos, informações sobre minhas chances de ter um VBAC, mudei de
médico sem meu plano cobrir nada, decidi pagar pra ter o parto do jeito que EU
queria... simmmm... EU queria... e descobri que poderia... do jeito que minha
Anahi merecia! Eu merecia parir, já havia passado por uma cesárea muito
desnecessária (Relato do Parto de Maria Clara) e agora que eu sabia que eu podia... ninguém ia me tirar isso!
Eu e Vagner queríamos o parto em
casa, mas a casa é da minha sogra, e além dela meu cunhado também mora conosco!
Portanto, teríamos que convencê-los... demorou... demorou... mas conseguimos...
na última semana... embora eles ainda estivessem apavorados com a idéia,
deixariam a casa liberada... \o/
Minha nova equipe médica era
exatamente a mesma que fez o parto do Francisco, o filho do Rogério, que tempos
atrás eu chamei de louco!
Eu li, conversei, tirei dúvidas,
me emponderei, montei e preparei minha equipe para que tudo corresse bem e...
... com 37 semanas e um dia, 05
de Abril de 2011, fui para minha segunda (e última... mas eu ainda não sabia
disso) aula de Yoga lá na casa da Zezé, foi ótimo, senti meu corpo funcionando,
delícia! À noite senti umas contrações e achei que estavam muito próximas,
comecei a marcar... variavam entre 8 e 10 minutos... aí a Zezé me mandou pro
chuveiro... fui, e tudo passou... mas ela me alertou que poderiam ser os
pródromos já!
No dia seguinte tinha uma reunião
com a Zeza, a parteira, elemento fundamental da minha equipe! Eu e mais 3
gestantes fomos e tiramos muitas dúvidas... eu tirei todas as que me rondavam
ainda!
Dia 07 acordei me sentindo
estranha, limpando tudo e fiz uma lista das coisas mais importantes que
faltavam no enxoval da Anahi!
Na sexta e no sábado fui ao
centro de Porto Alegre comprar as coisas da lista, eram tantas coisas que fui
dois dias, pra não carregar tanto peso com meu barrigão de 8 meses e meio!
Nada disso foi avisado a ninguém,
NADA, NINGUÉM! Nem de pródromos, nem de sentimentos estranhos, ansiedade...
enfim!
No sábado à noite, de papo com
uma das meninas que trabalham em um centro espírita que eu já frequentei lá em
Natal/RN, ela sutilmente me diz pra deixar tudo pronto, que minha Anahi estava
chegando, que eu teria um parto rápido e tranqüilo... fiquei eufórica na
hora... depois relaxei e senti que era hora só de esperar!
Domingão, almoço em família e eu
tive certeza... era o meu último de barrigão! Depois de um dia bem normal...
quando fui dormir, tive um pouco de cólicas... mas até aí, achei que tinha
exagerado na lasanha!
... dia 11 de Abril de 2011,
segunda feira, ao amanhecer, casa vazia, minha sogra já tinha ido para o
trabalho, e meu cunhado não havia chegado da noite. Fui ao banheiro umas 3
vezes com cólicas ainda, evacuei tudo que tinha... mas as cólicas
continuaram... e de repente, um pequeno sangramento!
Não me apavorei nem nada e fui
contar o tempo das minhas contrações! Pasmem, estavam de 3 em 3 minutos, mas
mal doíam ainda... ainda!
Liguei para a Zezé pra deixá-la
alerta e ela me mandou passar uma hora no chuveiro quente! Passei mas nada
adiantou, pedi pra que ela viesse pra nossa casa! Meu marido se concentrou na
faxina da casa, limpando tudo! Ele colocou as músicas que eu havia separado,
comprou incensos, deixou tudo como havíamos combinado!
Naquele momento eu nem tinha lá
muito certeza de que queria o parto em casa, apenas fui ficando lá,
respirando... era um lindo dia e eu estava muito calma, muito tranqüila!
Daí a Zezé chegou, fiquei ainda
mais calma, estava com um sorriso no rosto... ela encheu a bola, eu fiquei
sentadinha na bola, rebolando, sentindo cada contração, sentindo as dores
aumentarem... sem pânico... eu sabia que ia doer... mas eu estava bem preparada
e equipada!
Por volta das 11h (eu acho) a
Zezé ligou pro Ric e pra Zeza, meu obstetra e minha parteira, e avisou que meu
trabalho de parto estava evoluindo! Na minha cabeça tudo passou muito rápido...
lembro de pensar muita bobagem no começo, coisas do tipo: “a casa vai ficar
toda suja”, “o Vagner vai se assustar”, será que vou sangrar horrores?”, “eu
vou morrer!” rsrsrsrsrsrs Muitas bobagens e absurdos... mas com o aumento das
dores, a concentração era mais do que necessária... lembrava das aulas de Yoga
com a Zezé, ela falava “concentra na respiração em tubo”, “relaxa o resto do
corpo”... e tudo me parecia estar indo muito bem... e estava! Por volta do meio
dia o Ric e a Zeza chegaram, as contrações estavam doloridas mas bem ritmadas e
suportáveis, o Ric fez um toque e eu estava com 4cm de dilatação... mas no
toque, a bolsa estourou! Perguntei a hora e me disseram 12:40, achei uma
maravilha pois na minha cabeça não tinha passado nem uma hora... fiz as contas
e eu estava dilatando cerca de um centímetro por hora... me pareceu bom! Voltei
pro chuveiro quente (que sensação boa), fiquei sentada na banqueta embaixo do
chuveiro pra relaxar o corpo, mas tudo fluía muito bem... porém, depois da
bolsa rompida, as dores eram mais intensas.
Lembro que no máximo de meia em
meia hora a Zeza ouvia os batimentos da Anahi, o que me deixava mais confiante.
Penduramos o cordel vermelho de capoeira do Vagner na janela do banheiro e a
cada contração eu estava lá, pendurada, tentando manter a dor apenas onde
realmente tinha que doer!
Lembro que em momento
nenhum pensei em anestesia... as massagens da Zezé... o rosto da Zeza (a pessoa
com o rosto mais sereno que já vi).. me acalmavam a ponto de fazer a dor
diminuir... mas não por muito tempo (rsrsrs)! As dores aumentaram muito e eu
desisti do chuveiro, lembro que nesse momento eu aceitava tudo o que me
oferecessem, “quer sentar na bola?”, “quer água?”, “quer ir pra cama?”... minha
resposta era sim pra tudo... mas fui pra cama... ficar na posição de 4 foi o
que mais me aliviou, além das massagens da Zezé e da Zeza.
De repente comecei a sentir um
ardor próximo a minha cesárea, não ouvi nada mas senti um ar preocupado do Ric,
que decidiu por antecipar o próximo toque... muito é pouco... doeu TUDO... até
xinguei ele, tadinho... mas as palavras dele depois do toque aliviaram muito as
dores... “dilatação total, é só nascer!”.
Tive vontade de gritar de
felicidade... não sei quanto tempo demorou desse momento até a Anahi nascer,
mas eu lembro que doía, e eu gritava, pedia ajuda, um show... e de repente eu
ouvi o Ric me chamando “Camila, CAMILA... vc vai assustar seu bebê!”.. e eu me
perguntava, “Pq eu estava gritando?”... minha cabeça estava confusa, mas lá estava
eu, no meu momento, sentada na banqueta, escorada nas pernas do meu marido que
estava sentado na nossa cama, no nosso quarto... o Ric filmava, eu apertava a
Zezé, e olhava a Zeza na minha frente fazendo uma respiração que eu entendi que
era pra imitá-la, e foi o que eu fiz... respirei... respirei...
... de repente me deu uma vontade
imensa de fazer força... e eu fiz! Jamais vou esquecer esse momento... o Vagner
chorando, eu chorando... a Anahi chorando, linda, negrinha, toda inchada, bem
pequena... deliciosa! Veio pro meu colo e parou de chorar... ficou calminha,
coisa mais linda da minha vida!
Depois disso, me botaram na cama
agarradinha com ela, tínhamos que esperar a placenta sair... momento mais que
mágico! O Vagner com uma cara de bobo linda, quase sem acreditar. Ela bem
calminha, não conseguia mamar, mas ficava me lambendo, que delícia... ser
mamífera é uma delícia! A placenta saiu, o Vagner cortou o cordão... não lembro
bem da ordem... rsrsrsrs. Botamos a menor roupa que tínhamos pra ela... ficou
enorme.
Sentei na cama, muito orgulhosa
do meu feito, muito feliz por ver os olhos do meu marido, muito segura, por ver
que a minha decisão de parir em casa foi muito acertada... plena!
A Zeza pegou a Anahi pra fazer as
medições necessárias, aproveitei pra tomar uma canja que o Vagner havia
preparado. Depois disso a minha pequena dormiu... dormiu muito. Eu não cansava
de olhar pra ela... eu ainda não canso de olhar pra ela...
Hoje ela está com 10 meses e 18
dias... ontem a noite ela andou sozinha pela primeira vez... e eu continuo
muito orgulhosa dela, de mim, do meu marido e da família que construímos!